instituto projetos ambientais, em revista

Exemplo da confecção de um artigo Técnico - Políticas de Gestão de Recursos Hídricos

POLÍTICAS DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS NA APA CABREÚVA - ANÁLISE DA MICROBACIA DO RIBEIRÃO PIRAÍ


Preâmbulo
Recém concluído o doutoramento, concursei-me em uma Escola Técnica do Centro Paula Souza em Jundiaí - assumindo a coordenação do 'Curso Técnico em Recursos Hídricos'.
Sem recursos e para um curso noturno - recém criado também, com um grupo heterogêneo e sob situações extremas ----- propus aos alunos a produção de um TCC - trabalho de conclusão de curso. O início foi duro, uso limitado de computadores, aulas com giz e lousa, tempo frio, perdido. Mas aos poucos os alunos foram entendendo e fomos montanto propostas de acordo com a realidade de cada um - o que era o único ponto a favor: tinha alunos de várias cidades de entorno a Jundiaí - então continuamos a proposta pelo viés do doutoramento - vamos levantar dados de trechos hidrográficos em cidades distintas.

O caso de Cabreúva - SP
Este é um exemplo fantástico pois além de ser uma cidade trata-se também de uma APA - Área de Proteção Ambiental.

Dividiu-se o trabalho para fins de execução e organização estrutural em tópicos:
a) Introdução e Objetivo
b) Descrição da área de estudo e procedimentos metodológicos
c) Contextualização e diagnóstico das políticas ambientais
d) Conclusões
e) Bibliografia

Algumas notas:
- Produzir um trabalho ou elaborar um projeto em pesquisa aplicada não é tarefa tão fácil assim; neste caso o alvo era o objeto de estudo - a água, sua qualidade e uma associação com a interveniência pelos instrumentos já existentes - trata-se de uma APA, com Conselho Gestor, Município com vocação ao turismo, detectou-se publicações científicas para a região, além da experiência acumulada nos mais de quatro anos em um doutorado em um Município altamente impactante nos recursos hídricos;
- Uma entrevista com a autora do artigo - aluna do Curso da ETE Benedito Storani, para definirmos objetivo, o que era possível conseguir nos órgãos, resultados analíticos de qualidade de água, elaboração de uma agenda/ ou melhor dizendo cronograma;
- Pensar no artigo ou projeto é vital pensar em: problematizar, uma hipótese mesmo simples, objetivo (s) e uma 'espinha dorsal' metodológica, fortemente alinhavada com referencial teórico;
- O título, introdução, podem esperar. Mas é de suma importância pensar na primeira palavra do título - pense nisso ao escrever: é uma análise, uma avaliação, uma proposta, uma diagnose, um levantamento,leitura ou são: aspectos, elementos, critérios, dados a mensurar. Dizem usar a palavra 'estudo' pode parecer 'pleonasmo' - qual projeto, dissetação, artigo já não é em si um estudo? Mas ainda vejo este uso de palavra.
- Bem o objetivo... ou objetivos - podem ser dividido em Geral e Específicos, Pode ser um tópico ou item do projeto ou pode aparecer no final da introdução; ou pode ainda ser colocado em um tópico que possa substituir a introdução no caso de um artigo em tópico com outro nome de título: como 'Contextualização', 'Fundamentos da Pesquisa', ou mesmo 'Apresentação'.
- Sempre penso em começar assim (como aprendi na Unicamp) - O presente trabalho tem por objetivo ........

APLICAÇÃO - COMO FICOU O ARTIGO USADO PARA EXEMPLO? VALENDO EXPLICAR QUE SURGIU NA ÉPOCA DA CONCLUSÃO CHAMADA PARA O 1º SIMPÓSIO SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS EM RECURSOS HÍDRICOS DA AMÉRICA LATINA - ANO DE 2004.

TÍTULO: POLÍTICAS DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS NA APA CABREÚVA/SP – ANÁLISE DA MICROBACIA DO RIBEIRÃO PIRAY

INTRODUÇÃO E OBJETIVO (Fizemos assim:)
A Escola Técnica Benedito Storani – CEETESP, Jundiaí-SP está formando a primeira turma de Técnicos em Recursos Hídricos do Brasil, inserindo no mercado de trabalho, profissionais capazes de atuarem no novo nicho sugerido pela intensa poluição e diminuição na disponibilidade quantitativa e qualitativa de água. Este estudo representa o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do autor da pesquisa – desenvolvido no componente curricular Aspectos Institucionais em Recursos Hídricos. O objetivo central da pesquisa trata-se da construção de um diagnóstico das Políticas Públicas ambientais e relacionadas à gestão de recursos hídricos na APA Cabreúva-SP – usando-se como escala de referência a Microbacia Hidrográfica do Ribeirão Piraí.

Pelo espaço vamos citar conclusões com bibliografia e moral da es (his) tória:

CONCLUSÕES
Conclui-se que, pelo diagnóstico preliminar da qualidade da água do Rio Piraí (CETESB, 2001), não há concordância entre a quantidade de atores diretamente responsáveis e intervenientes na gestão da APA Cabreúva-SP e o atual cenário. Detectou-se como enquadramento Classe 1, segundo Conama 20/86 somente para a nascente do manancial Piraí, mantendo-se em grande extensão como Classe 2 e, assumindo referência Classe 4 (a pior da Conama 20/86) em considerável trecho da microbacia dentro da APA Cabreúva. Desde 1977, o Plano Diretor já mencionava a preservação hídrica, denotando paradoxal coerência com o atual cenário ambiental. De forma geral, as legislações municipais contemplam maiores preocupações com as formas e características físicas de parcelamento do solo e, de fato, não sustentam a evolução do crescimento populacional na capacidade dos seus recursos naturais. O espaço percorrido pelo Ribeirão Piray em território cabreuvano, com atenção especial para o trecho compreendido entre sua nascente e o bairro Villarejo Sopé da Serra, indica uma área onde suas várzeas foram ocupadas por loteamentos não planejados sob a ótica ambiental, apresentando atualmente uma população de aproximadamente 9.000 habitantes e com conseqüente carência estrutural de saneamento. Degreas (1991) comenta que “(...) a situação do município era de total abandono informativo, e seus munícipes não se davam conta da importância de ter se tornado Área de Proteção Ambiental.(1.991)”, depois de aproximadamente 15 anos, a afirmação de Degreas ainda é válida. Cabreúva se insere num complexo urbano que tem em seus vértices as cidades de Campinas, Sorocaba e São Paulo, apresentando-se como mais um componente da área de expansão da macrometrópole, permanecendo, ainda assim, como “área livre” dos efeitos da urbanização e industrialização, da forma como hoje a conhecemos (Degreas, 1991). Compõe ainda esta pesquisa, um conjunto de registros, constituído por acervo fotográfico e imagens em formato digital obtidas junto aos órgãos visitados. O estudo na íntegra contempla maior detalhamento das premissas legais nos âmbitos local e estadual, discutindo detalhes da ineficiência no tratamento de esgotos produzidos pelo município, extensivo às informações que conferem ao Ribeirão Piraí sua vital importância para a continuidade do equilíbrio entre os ecossistemas no seu entorno. Recentemente, a audiência pública para elaboração do novo Plano Diretor, foi marcada com a presença de diferentes setores e grande participação da sociedade civil. O contexto construído por uma sociedade organizada e participativa, sem dúvida é um caminho mais viável, ao do uso dos instrumentos de defesa processual dos recursos hídricos, previsto no Direito Brasileiro.

BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Consumo sustentável - Manual de Educação. Ministério do Meio Ambiente; Consumers International; IDEC – Defesa do Consumidor, Brasília-DF, 2.002.
CPLEA. Educação Ambiental – Vinte anos de Políticas Públicas. Governo do Estado de São Paulo, Secretaria do Meio Ambiente, Coordenadoria de Planejamento Ambiental Estratégico e Educação Ambiental-SP, 2.003.
DEGREAS, H. N. Paisagem e Proteção Ambiental: do conceito ao desenho. Dissertação de Mestrado, Fauusp, São Paulo, 1991.
LITTLE, P. E. Políticas Ambientais no Brasil: Análises Instrumentos e Experiências. Ed. Peirópolis, IIEB – Instituto Internacional de Educação, Brasília-DF, 2.003.
SÃO PAULO. Diagnóstico Preliminar do Rio Piraí. Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado do Meio Ambiente, CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, São oPaulo-SP, 2001.
VALE, M. M. Diretrizes de Uso e Ocupação Urbana para o Município de Cabreúva. Trabalho de Conclusão de Graduação, USP, São Carlos-SP, 2.000.

MORAL DA HISTÓRIA:
A aluna conseguiu sensibilizar os agentes políticos, conseguiu aprovação do artido no simpósio internacional, a prefeitura bancou sua viagem e afins, apresentou o artigo em forma oral, mais, conseguiu um cargo na prefeitura de Cabreúva-SP, mais e melhor, sensibilizou os agentes políticos e Cabreúva publicou uma Lei Municipal de Águas. Depois disso escrevemos mais um projeto para o FNMA que foi habilitado em duas chamadas edital 02/2005. Este projeto existe e deve compor outro item deste blog. A aluna hoje está concursada na Cetesb e faz Geografia na Usp - tudo começou na escola técnica - Pós-Médio.

Autor do artigo: Thais Michelle Oliveira - e-mail: thami23@msn.com
Orientador: Prof. Rogério Stacciarini - e-mail: rogerstac@gmail.com

Um comentário:

  1. VIDA DE PROFESSOR

    A docência na área de Recursos Hídricos e Coordenação de um Curso Técnico foi uma experiência muito gratificante.

    Não que seja fácil trabalhar em escola técnica pública. Nada disso - o Governo deve implementar um plano de carreira sério e promover respeito aos docentes.

    Mas fora tudo isso que todo mundo já sabe - e professor continua cuidando dos filhos de todo mundo e ainda é marginalizado.

    Alguns postulados para trabalhar com educação nesta área:

    - Um projeto não precisa de computador; pode se pedir para os alunos abrirem num caderno um índice, numerar as folhas, e a cada dia de encontro lançar um novo ponto. Ou seja, construa uma apostila com seus alunos, a cada aula; Identificada, programada e atendendo ao seu plano de ensino.

    - Deve contemplar a realidade do aluno - onde ele mora? Rua? Não! Bacia Hidrográfica. Isto mesmo aprenda a dizer 'eu moro na Bacia Hidrográfica tal'.

    - Conceitos, sem conceitos nenhum professor é professor de nada. Conceitos sobre meio ambiente, sobre água e recursos hídricos, sobre impacto, poluição. Integrar aos conceitos a legislação, onde achar à realidade de onde se ensina, indo a normas técnicas para infra-estrutura ambiental. Exercícios com 'contas' ou seja numéricos - meio ambiente e modelação matemática. Isto deve vir desde o ensino mais básico.

    - Também legislação - estude uma ou duas com seu alunos, interprete, analise, busque um caso na promotoria pública e exerça cidadania;

    - Outro ponto de psicologia ambienal e que é crucial: não pense educação ambiental como a que se tem visto na TV. Um escola de renome com seus alunos de 7-8 fazendo desenhos e plantando árvores - um aluninho entrevistado disse 'é só plantar uma árvore que vai crescer e ficar grandona', 'a gente cuida dela' e 'vai ter tanta natureza'. Como se fosse assim, crescer em meio a uma fantasiosa educação ambiental. Em palavras não é tão fácil traduzir essa reportagem, mas a sensação era como se a criança tivesse caído, se machucado, e a gente soprasse dizendo 'não tá doendo não'. Hábito comum até hoje entre pais e filhos. Educação para o meio ambiene não é isso. Nunca foi isso.
    A gente sente que tá doendo, que alguma coisa tá acontecendo ao redor, criança percebe demais. Maior cuidado para quem vai tratar do tema com estes indo até a fase jovem.

    - Para os professores, métodos e reflexões diferenciadas devem ser planejadas e cuidadas - para também não se instalar um sensação de pessimismo pleno. As aulas devem estar encadeadas atendendo as dimensões: de leitura, de cálculos, de interpretações, de métodos e técnicas em avaliações ambientais e sobre planejamento urbano. Não esqueça de um pouco de planejamento urbano. E de legislação.

    - Trabalhar com educação e água não é uma tarefa simples.

    - Outras técnicas:
    * Usar mapas e cartografia; inventar roteiros reais e escola adotar um trecho de rio - não marketing apenas, mas responsabilidade;
    * Contato com prefeituras e textos publicados, roteiros e cobranças aos agentes políticos; Um exercício pode ser simulado em sala de aula, com alunos assumindo e estudando para um encontro - onde cada um assumer um ator sócio-ambiental na gestão ambiental.
    * A escola pode ser ponto para agregar a comunidade e estudar feições do bairro onde está situada;
    * Envolver nos níveis mais iniciais da educação o Planejamento Urbano e Ambiental; onde estou, como vivo, o que é meu meio ambiente - bairro, escola, clube. Um idéia e estar no centro do bairro e traçar um raio de 300 ou 500 m, com descrição das ativiades ocorrentes, categorias de construções, indo ampliando para conexões com outros espaços urbanos.

    - Escrever, e escrever. Ainda penso que a maior deficiência da escola de hoje é a busca por simplificaçoes demais. Nivelando os alunos abaixo do já então desejo dos mesmos de deixar assim. É preciso impulsionar, não simplifiar, recorta e cola da internet, trabalho em grupo, nunca mais prova, ou prova e professor arquiva. Os projetos ambientais de grandes técnicos, que estão há anos no mercado, em muito se percebe o mesmo discurso, as mesmas palavras. Cada estudo ambiental é um novo estudo ambiental. A comunição da incomunicabilidade.

    - Quem faz educação para os recursos hídricos e para a gestão ambiental - tem que levar o grupo a escrever muito, pensar e discutir. Por vez, ir à expressão latente para ao que se chama 'Pensamento Sistêmico'.

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