instituto projetos ambientais, em revista

E n t r e v i s t a: Prof. Dr. Carlos Roberto Espindola - autor do livro 'Retrospectiva crítica sobre a Pedologia' fala sobre a publicação



Autor do livro Retrospectiva crítica sobre a Pedologia - Um repasse bibliográfico - O professor e pesquisador Dr. Carlos Roberto Espindola - Engenheiro Agrônomo pela ESALQ/USP, Pós-Doutor pela 0ffice de La Recherche Scientifique Et Technique 0utre Mer ORSTOM - França, Livre docente pela Unesp, e, atualmente, Assessor do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza e com atuação na Pós-Graduação do Curso de Geografia da Unicamp, é uma das grandes autoridades brasileiras em Qualidade de Solos Agrícolas. Após o lançamento do tão esperado "Retrospectiva crítica sobre a Pedologia" em 12 de Março de 2009 na cidade de Campinas-SP, com menção honrosa do Prof. Emérito José Pereira de Queiroz Neto da USP, o livro foi noticiado na coluna da Mônica Bergamo da Folha de São Paulo (13/03/2009) e é uma leitura fundamental a professores e pesquisadores na área de solos. O Prof. Espindola, nos dá a honra de uma entrevista especial para o blog Projetos Ambientais, postada(com a liberdade) em nome de seus alunos da Geografia e todos os ex-alunos da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, não só pela oportunidade sólida do aprendizado ilimitado sobre a pedologia, solos e meio ambiente, mas sobretudo pelo educador humano, professor desafiador à leitura científica, incentivador perspicaz a novos projetos e homem humano diante das dificuldades inerentes ao processo de convivência e aprendizado natural a qualquer aluno; neste caso, 'discípulos'. Para adquirir o livro: vendas@editora.unicamp.br ou clique sobre o título da postagem.

O livro e maiores informes, também podem ser obtidos diretamente com o Prof. Dr. Espindola: carlosespindola@uol.com.br

A entrevista foi realizada via internet e apresentada pelo Prof. Dr. Carlos Roberto Espindola em 10 de Abril de 2009.


E N T R E V I S T A . . . . . . . . . . . .

Projetos ambientais: "Retrospectiva crítica sobre a Pedologia", o que significa o resultado apresentado neste livro?
Prof. Espindola: Muitos anos arquivando conhecimentos sobre o assunto, com o intuito de repassá-los para os que militam na área de Solos.

Projetos ambientais: É uma leitura acessível a leigos nessa temática? Como podemos compreender o significado de 'Pedologia'?
Prof. Espindola: Muitos leigos poderão compreender diversos aspectos tratados no livro, embora possam achar cansativo quando aborda dados históricos da Pedologia, que ganhou essa denominação derivada do latim, significando Ciência do Solo (pedon=solo). Ela trata do estudo sistematizado do solo principalmente no que concerne a sua origem, desenvolvimento, descrição no campo e laboratório, classificações e distribuição geográfica. É básica para o estudo da fertilidade do solo, adubação e nutrição de plantas, irrigação e drenagem, aplicação de resíduos, conservação e planejamento agrícola. Atualmente tem tido grande incremento com possíveis soluções para os problemas ambientais.

Projetos ambientais: Qual foi a partida para a elaboração do livro? Fale-nos um pouco da sua história.
Prof. Espindola: Há uns bons anos (1982) surgiu a intenção de se produzir um livro de "Gênese, Morfologia e Classificação se Solos" pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, quando esta era ainda sediada em Campinas. Após diversos entendimentos com os possíveis autores de capítulos, fiquei encarregado de preparar 3 (três) deles. Foi do capítulo introdutório, que escrevi por inteiro (o livro nunca chegou a ser concluído) que, anos depois, veio-me a inspiração para fazer o livro, ampliando bastante o antigo conteúdo. Nesse sentido, muito da trajetória contida no livro acompanha a minha própria trajetória na vida acadêmica, as dificuldades encontradas e as experiências acumuladas.

Projetos ambientais: O resultado do livro "Retrospectiva crítica sobre a Pedologia", na essência da sua compreensão, contesta a bibliografia convencional no tema 'solos'? Pode nos explicar?
Prof. Espindola: Não. Não há propriamente contestações, mas críticas julgadas de boas intenções em relação a certos aspectos que ficam a desejar numa ciência tão nobre como a Pedologia, que merecem ser revistos e rediscutidos pela comunidade envolvida no assunto. Algumas dessas críticas eu já as fizera em outros momentos, quer em palestras, como em cursos e eventos científicos, mas sem atingir os objetivos, talvez por serem julgados de pouca relevância. Quem sabe na forma de livro, também com o "crivo" dos alunos, normalmente muito poucos nos eventos com grandes platéias, possa ser dada alguma importância aos mencionados aspectos.

Projetos ambientais: Especialmente para pesquisadores, qual o ponto chave a ser revisto no que concerne a caracterização, avaliação e planejamentos experimentais em solos tropicais diante da bibliografia convencional?
Prof. Espindola: Para os pesquisadores consagrados ou experientes, não vejo grandes "revisões", conforme termo usado pelo entrevistador; se algo houver, nesse sentido, acredito que possa ser feito no campo da classificação taxonômica, desde que aceitas as ponderações por mim utilizadas. Para os recém-pesquisadores, como os pós-graduandos, vejo, sim, grandes possibilidades de ampliação no conhecimento da bibliografia envolvida, dado o vasto número de autorias mencionadas no texto. Daí o subtítulo -"um repasse bibliográfico", contendo uma ambiguidade, já que o repasse pode ser tomado em duplo sentido: repassar a bibliografia pode dar idéia de levantar tudo o que existe sobre algo, e, ao mesmo tempo de passar para a frente esse universo.

Projetos ambientais: Qual sua expectativa quanto a agregar o conteúdo do livro na dimensão de ENSINO em escolas com disciplinas sobre solos?
Prof. Espindola: É o meu maior sonho, na condição de professor que fui a vida inteira. O trabalho com o aluno é tão estimulante e exige tanto de nós, que precisei aposentar-me para ter tempo de colocar no papel (ou no computador) todo o "acervo" considerado pertinente.


Projetos ambientais: Na sua visão pós escrita e lançamento do livro, como transmite 'a produção de novos conhecimentos' sobre solos, dentro da realidade geográfica brasileira?
Prof. Espindola: Acredito que isso já seja feito de maneira adequada nas diversas regiões fisiográficas brasileiras, posto que temos excelentes professores distribuídos pelo País, além de muito mais facilidades de busca de conhecimentos do que há alguns anos. Muitas teses e artigos científicos ficam disponibilizados pela Internet, senão as próprias bibliotecas, facilitando o acesso a publicações diversas. Isso garante, ou, pelo menos, facilita muito o que está contido na pergunta "a produção de novos conhecimentos". Espero ter respondido realmente o que a questão propunha.

Projetos ambientais: O que foi desenvolvido dentro da perspectiva convencional, na produção de ciência em solos, confronta em que realidade com o atual "Retrospectiva crítica sobre a Pedologia" de sua autoria?
Prof. Espindola: Confronto, propriamente dito, é um termo muito forte, podendo sugerir uma resposta pretensiosa, que eu gostaria de abrandar. Um desses aspectos em que empreguei bastante ênfase foi na questão do conceito de certas camadas genéticas do perfil do solo - os horizontes. Outro foi o conceito atribuído a grau de desenvolvimento de um solo, que pode levar um solo bem desenvolvido, sob meu ponto de vista, a ser considerado um solo pouco desenvolvido (um Neossolo).

Projetos ambientais: Numa visão pedagógica e como um dos titulares na reestruturação do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, o que muda em conceito e aplicação, diante da transformação de um 'Departamento de Água e Solo' para uma "Área de concentração em Água e Solo" (como exemplo a estrutura departamental)?
Prof. Espindola: O Departamento tem uma finalidade organizacional, procurando reunir pessoas em torno de áreas de conhecimento compatíveis, com o objetivo de facilitar procedimentos administrativos. São inúmeros os casos, em várias instituições, em que essa reunião em áreas acaba não funcionando muito bem, pois estão aí envolvidas personalidades muito distintas, procedimentos variados, simpatias, antipatias etc. Na realidade, isso tem grande peso, o que quer dizer que nem sempre uma restruturação vista por alguém de fora resulte em grande sucesso. Mas uma "área de concentração" pode ser constituída por pessoas de departamentos distintos, dependendo do seu grau de abrangência de conteúdos. "Solos", por exemplo, é muito importante para práticas de manejo, em geral, ou para irrigação, em particular. Diagnosticar uma compactação é tão importante para uma área de Água e Solo, como para Mecanização Agrícola.

Projetos ambientais: Tendo como exemplo o ensino e produção científica em 'solos', por que caminho podem avançar centros emergentes diante das escolas clássicas e de excelência do Brasil? Por que as escolas particulares e emergentes são tão resistentes a pesquisa de qualidade?
Prof. Espindola: Creio que o problema central é o envolvimento com a pesquisa, que faz avançar o ensino e a produção científica mencionados na pergunta. As chamadas escolas clássicas contratam profissionais com dedicação intensa às atividades afetas, ou seja, com muitas horas de trabalho semanais, senão integralmente, e até com dedicação exclusiva. Se isso não ocorrer, não se pode esperar muito com relação a pesquisas de qualidade. O mesmo raciocínio vale para os consagrados institutos de pesquisa, como o Instituto Agronômico, ou o Biológico, ou o Florestal etc.


Projetos ambientais: O senhor acredita que os pesquisadores convencionais irão rever suas tendências nas linhas de pesquisa sobre 'solos'?
Prof. Espindola: Parece-me que "pesquisadores convencionais", aqui, estão sendo considerados os antigos. É isso? Procurei mencionar todos esses antigos que ajudaram a escrever a nossa história em Pedologia. Muitos já estão totalmente afastados dessas preocupações; outros, acho que dificilmente irão querer mudar seus pontos de vista e, muito menos, suas linhas de pesquisa, conforme a pergunta enseja. Agora, existem também pesquisadores convencionais jovens, incluindo professores, que são, no meu modo de ver, os mais propensos à reconsideração de certos conceitos, mas isso não chega a atingir o que está sendo colocado como "linhas de pesquisa". O livro não tem, por certo, esse poder nem essa finalidade. Ele não passa, afinal, de "um repasse bibliográfico". Diga-se, de passagem, que gosto mais do subtítulo do que do título.

Projetos ambientais: Gostaria de deixar uma mensagem para novos pesquisadores em solos tropicais?
Prof. Espindola: Vamos colocar aqui como "novos pesquisadores" os pesquisadores propriamente ditos (de instituições de pesquisa), que estão começando suas funções, mas também os novos professores e alunos de pós-graduação. A esses, seria interessante a idéia do emprego de uma linguagem mais facilmente assimilável do que a que tem sido usada quando a pesquisa é dirigida a um público pouco familiarizado com a Pedologia. Os solos tropicais já trazem, de per si, muita complexidade e, em prol de uma melhor comprensão, isso deve ser atenuado; nesse processo, a linguagem é de fundamental importância. Um levantamento pedológico, por exemplo, em geral é feito com uma finalidade específica (planejamento agrícola, restrições ao uso de certas áreas etc). O mapa ou carta de solos deve ser acompanhado de um texto cuja linguagem seja a mais comprensível possível, de forma interpretativa. Um nome como Latossolo já, por si só, pode causar incômodos a certos usuários. A mensagem a deixar, como suscitado na pergunta, se necessária for, é a de que os nossos solos tropicais sejam tratados pelos novos pesquisadores com muito carinho e respeito, pois muitos deles advém de uma longa e penosa história, de escala geológica do tempo, já tendo passado por inúmeras vicissitudes. E mesmo os solos mais jovens não ficam livres das tentações devastadoras do único ser animal que povoa o Planeta e é capaz de prejudicá-lo pensando apenas no seu próprio proveito - o Homem.

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