instituto projetos ambientais, em revista

Sinapses - Vivemos num mundo são? Psicologia e antítese ambiental pelo poder da cultura política






ato 1. Psicologia e Política Ambiental - uma referência

"A Psicologia Ambiental deve ser desenvolver de modo a se tornar mais pragmática e conceitos teóricos devem ser encorajados, como o de lugar."

É assim que Castello (2005) acredita que a Psicologia Ambiental pode ajudar na formulação de objetivos de uma Política Ambiental; apoiando uma corrente da Arquitetura e Urbanismo que entende que a cidade (o ambiente) compreende 'fatos físicos' (os espaços arquitetônicos, os espaços naturais modificados), e 'fatos comportamentais' (o uso que os indivíduos fazem desses espaços, o apego e o afeto que esses indivíduos têm em relação aos espaços). Há, na cidade, então, um espaço topológico, ao qual se integra um espaço psicológico. O espaço topológico é mensurável e apresenta características que podem ser captadas com objetividade e descritas, morfológica e funcionalmente. E uma operação seletiva e interpretativa, feita por nossa percepção sobre o espaço topológico, define o espaço psicológico.

De forma complementar, Castello (2005), explica que uma Política Ambiental contempla um conjunto de ações que visam a um Desenvolvimento Sustentável de um determinado ambiente ou região. Assim, a Psicologia Ambiental é importante para a definição dos objetivos da Política Ambiental porque busca identificá-los partindo daquilo que as comunidades envolvidas percebem a respeito das condições apresentadas por seu ambiente. Parte-se, então, de informações calcadas na percepção do ambiente, informações que expressam o que os usuários percebem como "valores" contidos no ambiente (compreendendo-se aí tanto a percepção de atributos positivos como de condições negativas).

ato 2. O modelo baseado na lógica do capitalismo

Sobre o modelo baseado na lógica do capitalismo em relação aos desastres ambientais, Raquel Rolnik fala a Revista Fórum (N.º82 Janeiro de 2010), sendo extraído para reflexão:

"Às vezes olhando na paisagem, você não consegue diferenciar o que é favela e o que é loteamento irregular, pois a marca da precariedadeurbanística está presente nos dois. E aí entra o terceiro elemento nesta história, que é o político - essa é a história da ambiguidade - como são os espaços auto-produzidos, não obedecem as normas, não se pode investir lá. Assim, continuando, Rolnik (2010) explica: mas lembre-se que a pessoa vota, e aí pode-se aceitar excepcionalmente investir ali com infra-estrutura, consolidando um modelo extremamente perverso na nossa democracia e que está presente até hoje. Mantém-se um padrão excludente, o povo vai lá e auto-constrói, o poder político negocia comunidade a comunidade, loteamento a loteamento, bairro a bairro, as intervenções no sentindo de ir integrando o local à cidade. Mas nunca de uma vez, sempre a conta-gotas, de modo que isso renda quatro, cinco, seis eleições, que é mais ou menos o tempo que leva um bairro para se consolidar, porque tudo isto é visto como um FAVOR, uma concessão do governante já que, em princípio, é ILEGAL. Então é fantástico esse sistema que mantém concentrado o poder e a renda na cidade e reserva, ao mesmo tempo, uma base popular que vota, que o sustenta."

É possível que toda a lógica (de contra-mão) na sistêmica temática ambiental às alternativas e soluções, surjam dos efeitos psicológicos dos gestores em seus projetos e agendas, assim como surta efeito no psicológico dos usuários envolvidos na cadeia de existência e habitação em referência ao fixo - a seu lugar de habitação ou de desenvolvimento de relações afetivas. Ou seja, está intrincado um sistema complexo de co-existência entre o modelo de ordenamento territorial e os usuários em relação aos fixos e fluxos, aos retornos culturais e de transferência de informação na cadeia causal (de causa e efeito). Assim, "as sinapses", somatizadas de coletivos individuais às dos gestores numa antítese ambiental política (necrosada), têm se refletido numa "hipertermia" das regiões e até do planeta, como o grande ecossistema vivo.

O Planeta está são? A transferência histórica de informações (como valor de cultura) entre gerações sinaliza uma antítese ambiental pelo poder da cultura política. Ou do aculturamento tão dominializado ao inerente poder do capital e das formas de poder. A saber, que os próprios resultados de tantas inundações e catástrofes, refletem num custo ainda maior ao capital, um prejuízo incalculável. E aos gestores e sua histórica referência, para as atuais e futuras gerações, fica a lacuna em buscar uma resposta para as responsabilidades. O que quer dizer que os antepassados (numa maioria) deixa um imenso passivo ambiental para as gerações futuras.

ato 3. Insiste o efeito psicológico na antítese ambiental

Uma matéria densa e cheia de referências científicas, e também de como usar a ciência na antítese ambiental, é complemento na Revista Forum de Janeiro de 2010; onde Landislau Dowbor relata sobre 'a cruzada para negar o aquecimentol global':
"Não há dúvidas sobre o aquecimento global, nem sobre o peso das atividades humanas na sua geração. No entanto, depois de dois anos de uma gigantesca campanha da mídia, envolvendo também a criação de ONGs fajutas e de movimentos aparentemente grass-root, portanto 'espontâneos e comunitários', e sobretudo, listagens de cientistas "céticos" visando a dar a impressão de "quantidade", temos resultados que, para os grupos do petróleo, do carvão e semelhantes terão valido a pena: Pela Revista Britânica The Economist, a proporção de americanos que acharam existir evidências sólidas de aumento das temperaturas globais caiu de 71% em abril de 2008 para 57% em outubro de 2009 (Carta Capital 16/12/2009 pág. 48 apud Cowbor, L. Revista Foruam Janeiro 2010)." Essa matéria de Ladislau Dowbor é de grande importância como vacina psicológica aos mais desapercebidos ao caos da natureza, que se avoluma ainda mais em face a insistência do discurso política e sua retórica. Uma resposta sobre a lógica impressionante das trecnologias modernas de comunicação, a manipulação da opinião pública: "Os céticos passam a se apresentar como os que têm uma visão equilibrada, portanto 'acreditam' (vendem a idéia) que talvez haja um problema, mas que temos que ser ponderados - assim adiando as decisões. Estamos vivendo num mundo são?

ato 4. O poder da cultura

Naturalmente a Educação e a Ética é onde, ou deverá ser onde, toda a questão ambiental desemboca. Para pensar sobre a cultura como poder de transformação ambiental ou de alienação ambiental, faz-se como referência dois textos de Paulo Freire - de conhecimento pelos educadores. Aqui então fica como base os títulos de Freire - "Pedagogia do Oprimido" e "Pedagogia da Autonomia". Usando como analogia ou provocação esses títulos poderíamos pensar em curto ou longo prazo,nas questões como (não é uma reflexão simples): - "Que poder tem ou pode ter um oprimido?" "Qual a capacidade do oprimido (a partir do processo de educação)?"; ou ainda: - "O quanto o poder da autonomia pode significar na qualidade de vida ou influência em projetos ambientais?". Algumas questões mesmo para referenciar o poder da cultura, ou pensar nesse encadeamento psicológico. Um breve ponto da contribuição de Freire (1996) sobre o processo ensino-aprendizagem se faz oportuno:

"Posso não aceitar a concepção pedagógica deste ou daquela autora e devo inclusive expor aos alunos as razões por que me oponho a ela mas, o que não posso, na minha crítica, é mentir. É dizer inverdades em torno deles. O preparo científico do professor ou da professora deve coincidir com sua retidão ética. É uma lástima qualquer descompasso entre aquela e esta. Formação científica, correção ética, respeito aos outros, coerência, não permitir que o nosso mal-estar pessoal ou a nossa antipatia com relação ao outro nos façam acusá-lo do que não fez são obrigações a cujo cumprimento devemos humilde mas perseverantemente nos dedicar.
É não só interessante mas profundamente importante que os estudantes percebam as diferenças de compreensão dos fatos, as posições às vezes antagônicas entre professores na apreciação dos problemas e no equacionamento de soluções. Mas é fundamental que percebam o respeito e a lealdade com que um professor analisa e critica as posturas dos outros."

Para dar novas dimensões à questão ambiental em projetos de cultura ou pela reflexão a partir da cultura coletiva - emananda de visões psicológicas ou de como surte efeito sobre a "psique humana*" - este blog projetos ambientais, faz uma primeira análise sobre a cultura pelo viés da literatura e do cinema destes últimos anos até atualmente - uma leitura baseada nas listas de destaque e indicações próprias das pontuações de crítica de cultura. O resultado parece acenar para o quase imutável - que é o homem produzindo cultura para responder ainda aos seus anseios de relacionamento propriamente humano. Suas crises de amor, seus flagelos familiares, suas culpas e suas opressões. Colocando a psicologia psicanalítica como foco, ainda. Os dramas humanos ainda estão no centro da cultura atual. Poucos, mas representativos sinais de uma cultura ambiental surgem. Vejamos.

ato final - Cultura ambiental - Projetos contemporâneos

O ponto que se busca é chamar à reflexão sobre as coisas, não tê-las com o absolutismo de uma posição maniqueísta; pensar com olhar crítico sobre os temas e envolver o ambiente nessa nova forma de pensar - mas em nenhum momento destoar do objetivo da importância da questão ambiental e do crescente aumento populacional, comprometendo, pelo modelo de gerenciamento, os estoques de reservas naturais e, que modelos antigos de administração política estão em desuso cultural. A qualidade de vida e efeitos psicológicos estão na paisagem (cênica) do ambiente em que se habita, nas questões resolvidas que garantam água de boa qualidade e na presença do verde ao entorno, em parques, lazer e contato com natureza, talvez mesmo, para se aprender a respeitar o ambiente. Isso tudo influencia nos andamentos das futuras gerações, nascidas em meio a uma crise ambiental e política - e também de existência.

Seria a vida frágil? questiona Luiz Pondé (Folha São Paulo, 22/02/2010), emendando com resposta de uma aluna, que diz: "A vida burguesa é frágil". Diz que esse é um erro de quem pensa que a miséria humana foi inventada pelo capitalismo. O capitalismo é uma face da fragilidade. Pensar que a vida melhorou na modernidade parece também um engano. Como lembrou outro aluno: "As soluções modernas para a vida são como remendos em feridas incuráveis."

Mas como a vida é boa para as pessoas simples! Não se refere necessariamente aos pobres, para quem café da manhã, almoço e janta resumem a esperança e o ideal do dia-a-dia. A vida deles não nem um pouco fácil. Mas refere-se a quem lança mão de artíficos (valores de moda, teoria política, marketing de comportamento, concepções prontas de mundo e similares) para enfrentar o sentido das coisas. "O sentido da vida se arranca das pedras". O que quer dizer que não é fácil encontrar o sentido das coisas.

Algumas Sinapses ---------------------------------------------------------------

Uma professora disse uma vez uma teoria de que o homem veio do sapo, e assim a cada dia saia um pouco da água para se acostumar como o meio terrestre - mais seco; e que, esse processo de adaptação foi muito sofrido levando o homem a desenvolver um cortex inferior (na nuca); assim acumulando em sua memória a característica destrutiva.

Para a arqueóloga Cameron McNeil em Copán: que está revendo não só a imagem de desmatadores dos MAIAS, mas também revelando que aquela antiga civilização tinha práticas sustentáveis de produção de alimentos. Segundo ela, além de plantar milho, os Maias criaram sistemas agroflorestais. "É provável que eles pegassem florestas naturais e as 'gerenciassem'. Encorajavam o crescimento de árvores que eram economicamente úteis, seja como remédio, alimento ou material de construção", diz a pesquisadora em Folha de São Paulo de 17/01/2010. McNeil relata um episódio que ajuda a ilustrar o uso ideológico da arqueologia: "Uma vez, quando meus resultados já eram bem conhecidos em Copán, membros de uma ONG colocaram um cartaz no local dizendo que os Maias tinham destruído o ambiente da região. Alguns antropólogos avisaram que essa teoria tinha sido derrubada, e que era melhor não colocar os cartazes. O pessoal da ONG respondeu que, mesmo assim, era melhor seguir em frente porque isso ensinaria a população moderna a ter cuidado com o ambiente. Para mim, seria melhor fazer cartazes encorajando os visitantes a serem bons administradores do ambiente, tal como os Mais do período clássico!"

No cinema: pela cultura cinematográfica a crise ambiental mostra-se quase sempre em eventos apocalíticos. Exemplo de "A Estrada" (Um evento cataclísmico atingiu a terra, devastando-a por completo. Milhões de pessoas foram erradicadas por incêndios, inundações, a energia elétrica se acabou e outras morreram de fome e desespero)- a crítica diz ser um filme digno. E assim a uma relação histórica de filmografias nesse caminho.

Atual: Mas surge também o importantíssimo "LIXO EXTRAORDINÁRIO" - foi o filme escolhido pela Berlinale (2009) como o melhor entre 54 obras da Mostra Panorama - seção do Festival de Berlim que pretende ser vitrine da produção mundial. Lucy Walter (diretora) dedicou o prêmio aos catadores de material reciclável do Jardim Gramacho - RJ, que viraram personagens do filme quando o artista brasileiro Vik Muniz decidiu usá-los como parceiros em obras de sucatas. Na Folha de São Paulo de 22/02/2010 lê-se que o aterro abriga as pilhas de lixo sobre as quais os catadores se amontoam para separar material reciclável. "É o fim da linha, para onde tudo que não é bom vai, inclusive as pessoas, que são como lixo para a sociedade" diz Vik Muniz ( o filme estréia no Brasil no fim do ano 2010).
Mesmo no distinto "É proibido fumar" mistura-se a perseguição insistente aos fumantes "com algum desenho ambiental" - não mesmo, o sentido do humor negro fica por conta do desejo humano em ter outra pessoa e suas reações imprevisíveis diante dessa carência. Mesmo Roberto Freire já relatava em "A farsa ecológica" a fraude ambiental no poder político. Encontrando-se pelo "Quem ama dá vexame", do mesmo autor, como o inesperado final de "É proibido fumar" (filmografia 2009); onde se justifica a aproximação ao outro, nos fazendo cúmplices, amigos, amantes, qualquer coisa, pela negativa da solidão na esfera da satisfação social, negando às vezes nossa própria felicidade no sentido da extensão ao ambiente e sua preservação. Ou seja, para condições mínimas de existir é preciso água, ar (puro), alguma conexão com o espaço que nos possa abrigar.

Destaque para o Pachamama, filme que pode ser visto como o desfecho de uma trilogia (Rocha que voa e Intervalo Clandestino) em que se privilegia a multidão anônima, onde o termo brasileiro nunca está sozinho. Este novo filme de Eryk Rocha registra uma viagem de 14 mil quilômetros pelo Brasil, Peru e Bolívia, feita pelo cineasta a convite de uma equipe de pesquisadores, em 2007. Da selva amazônica à região da antiga civilização inca, a idéia é entender o que se passa nas nações vizinhas, tendo sempre o Brasil no retrovisor.

"- Qual literatura gosta de ambientar suas histórias de amor em um ambiente poluído?"
- Vale lembrar o romance que inspira o atual filme brasileiro "O amor segundo B. Schianberg" de Beto Brant - o romance trata de uma narrativa interessante e vamos usar um trecho para finalizar nossa conversa. O livro que tem o nome "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios" e se passa em uma cidade do Pará, em meio a exploração de uma mineradora, ou seja um cenário que questiona ou posiciona a existência humana em um ambiente de conflitos, relatando uma história de amor atrelada a garimpeiros e a serra pelada. O livro tem menção a um Psicoterapeuta chamado Professor Schianberg - segundo o qual "o desejo de se apossar por completo do outro é uma das doenças mais comuns do amor". "É o resfriado das doenças amorosas, segundo ele". "O problema, Schianberg escreveu, é permitir se transformar em gripe crônica. Costuma ser letal." Será esse nosso amor ambiental?

Epílogo

Numa conversa com um secretário de meio ambiente, sobre o aumento do corte de árvores urbanas em uma cidade, disse-lhe: "- Parabéns pela sua gestão na secretaria de meio ambiente - diz ser assim numa guerra, para nascer uma paisagem nova é preciso destruir a velha." Não se ele não entendeu ou é tão político que se fez de rogado. Dizem que a madeira dessas árvores na cidade eram vendidas para restaurantes e pizzarias.

Será que estamos vivendo nesse estado? Nosso ranso mal vivido nas relações estende-se ao ambiente, destruindo-o? Ou de onde vem essa crise com a natureza?
Lembra-se do Yin e Yang na psique: O sentido da destruição é mais Yin ou Yang?
Será fálico o sentido destrutivo, e agora em crise? Feita a mulher mãe e com os filhos criados, busca a um novo sentido mais libertário? Ou ao contrário, a mulher se masculiniza em conjunto pela admiração e fidelidade ao seu amado - masculino?

Enquanto isso, cuidemos de nossas árvores e rios!

Schianberg, fala da mulher que deu o nome de seu amado a uma árvore e de como ele retribuiu batizando um incêndio com o nome dela!

Plante uma árvore para seu amado: o Brasil! E lembremos das borboletas que um dia foram lagartas. O sentido das coisas é dado pela nossa racionalidade; somos espécie que tenta compreender a felicidade identificada nos animais, em alguns momentos achando, que podem (eles)ser mais felizes. Podem?

Nota:
*Psqique = Do grego psychein ("soprar"), é uma palavra ambígua que significava originalmente "alento" e posteriormente, "sopro". Dado que o alento é uma das características da vida, a expressão "psique" era utilizada como um sinônimo de vida e por fim, como sinônimo de alma, considerada o princípio da vida. A psique seria então a "alma das sombras" por oposição à "alma do corpo".


B i b l I o g R a F i A

Castello, L. Psicologia e Política Ambiental: estratégias para a construção do futuro. São Paulo: Revista Psicologia USP, 2005. p. 223-236 (pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul)

http://dowbor.org

Revista Forum - N.º 82 Ano 9 Janeiro de 2010. "As tragédias são frutos das opções políticas" - Raquel Rolnik entrevistada por Carlos Rizzo, Glauco Faria e Renato Rovai.

Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios - Marçal Aquino. São Paulo-SP: Companhia das letras, 2005.

Jornal Folha de São Paulo - datas: 17/01 e 22/02 de 2010.

A Farsa Ecológica.
Ame e dê vexame. Ambos de Roberto Freire.


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